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Patos mancos?
2024-12-31 HaiPress
Montagem de Jair Bolsonaro e Lula bebendo juntos — Foto: Reprodução
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 31/12/2024 - 04:49
Lula e Bolsonaro desafiam expectativas políticas em 2026
Lula e Bolsonaro desafiam a teoria do "pato manco" ao manterem expectativa de poder. Lula enfrenta desafios de governabilidade e acusações de manipulação de recursos. Bolsonaro delegou emendas a Arthur Lira. Ambos são vistos como possíveis candidatos,mas podem enfrentar obstáculos em 2026,abrindo espaço para uma eleição mais diversificada. A esquerda e a direita já consideram candidatos alternativos. Lula e Bolsonaro evitam discutir sucessão prematuramente,com possíveis sucessores como Haddad e ministro da Fazenda,respectivamente.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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A governabilidade do presidente Lula em seu terceiro mandato se degrada a cada demonstração de que não tem como resistir ao Congresso de centro-direita que o pressiona de todos os lados. A revelação de Malu Gaspar de que Lula mobilizou seu ministro de Relações Institucionais,Alexandre Padilha,para liberar alguns recursos especiais aos deputados federais por meio de manobra usando o Ministério da Saúde como uma espécie de “laranja”,é vergonhosa para um governo eleito com,entre muitas outras promessas,a de acabar com o “orçamento secreto”.
A demonstração de fragilidade do Executivo diante da nova postura do Congresso em relação às emendas parlamentares pode ser comparada à medida extrema adotada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro de delegar ao presidente da Câmara,Arthur Lira,o comando das emendas,abrindo mão de negociá-las para passar a conspirar 24 horas por dia por um golpe que lhe desse poderes absolutos.
Naquela ocasião,Bolsonaro foi considerado equivocadamente um “pato manco” (lame duck),expressão usada principalmente na política americana para definir o político que continua no cargo,mas que,por algum motivo,não pode disputar a reeleição e perde a expectativa de poder. A expressão nasceu na Bolsa de Valores de Londres,no século XVIII,em referência a investidor que não pagava suas dívidas e ficava exposto à pressão dos credores. A ave (e o político) com problemas torna-se presa fácil dos predadores. A expressão surgiu de um velho provérbio de caçadores: “Never waste powder on a dead duck”,ou “nunca desperdice pólvora com pato morto”.
Pois bem,Lula e Bolsonaro desafiam a teoria do “pato manco”,pois mantêm expectativa de poder mesmo debilitados. Bolsonaro foi apoiado pelos mesmos políticos que o desmoralizaram na manipulação das emendas,pois viram nele o único capaz de derrotar Lula,que voltava à cena eleitoral depois de reabilitado pela Justiça. Hoje,já há setores políticos considerando que Lula não terá condições de disputar a reeleição em 2026,seja pela idade (81 anos),seja pela saúde ou até mesmo pela impossibilidade de vencer a eleição devido aos problemas econômicos que se sucederão.
A inferioridade do esquema político de Lula diante do Centrão pode ser constatada pela tentativa,malograda de largada,de eleger apenas um senador em 2026,em vez de dois,como previsto na Constituição. Isso porque se prevê que a oposição,especialmente a direita,poderá eleger grande parte dos senadores,o que lhe daria poderes políticos variados,inclusive o de pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF),cujos ministros podem ser impedidos por senadores.
Assim como Bolsonaro foi para a direita em 2022,também Lula seja talvez a única chance de a esquerda se manter no poder. Isso poderá fazer com que ele se veja na obrigação de assumir o papel de candidato novamente,mesmo sem condições. Se forem confirmadas,porém,a impossibilidade de tanto Lula quanto Bolsonaro (inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral) concorrerem à Presidência em 2026,talvez tenhamos chance de nos livrar da polarização radicalizada que vivemos desde 2018 e partamos para uma disputa aberta entre as diversas forças partidárias que existem no país.
Assim como aconteceu em 1989,na primeira eleição direta para a Presidência da República depois da ditadura militar,poderemos ter diversos candidatos disputando o espaço dominado pelos extremos políticos nos últimos anos. Embora na esquerda o tema continue sendo tabu,na direita e no centro já existem diversos candidatos à vaga aberta com a saída forçada de Bolsonaro. Tanto Lula quanto Bolsonaro,no entanto,não admitem discutir a sucessão antes do tempo que consideram justo. Lula só designou Fernando Haddad como candidato do PT à Presidência em 2018 semanas antes do pleito. Hoje,mais uma vez o ministro da Fazenda parece o sucessor natural caso Lula não se candidate. Bolsonaro,tudo indica,fará o mesmo que Lula,aguardará até o último instante para definir que candidato apoiará.