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Mudança nas tarifas por Trump é derrota disfarçada de armistício
2025-04-10
IDOPRESS
O presidente americano Donald Trump em discurso no Comitê Nacional Republicano do Congresso,nos EUA — Foto: Anna Moneymaker/AFP
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 09/04/2025 - 18:57
Suspensão de Tarifas por Trump Sinaliza Pressão Interna nos EUA
A suspensão temporária das tarifas impostas por Trump,vista como uma capitulação,revela fragilidade interna do governo americano. A medida,que afeta principalmente a China com uma penalização de 125%,mantém a previsão de alta da inflação nos EUA. Protestos em diversas cidades e a desaprovação crescente da população pressionam o governo,enquanto Trump planeja novas tarifas para o setor farmacêutico.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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O “Dia da libertação” dos Estados Unidos teve validade de apenas uma semana e foi suspenso por uma retirada abrupta disfarçada de armistício. O governo americano foi forçado pela realidade a reduzir por ao menos três meses o tamanho de sua guerra comercial com a maioria do planeta. Ficam de fato libertos,mas da lógica,os que acreditarem na história contada nesta quarta-feira pela Casa Branca para justificar a mudança temporária de rumo.
O Secretário do Tesouro,Scott Bessent,garantiu que o plano de Donald Trump era “forçar países a negociar tarifas mais baixas para nossos produtos”,"recompensar quem não nos retaliasse",como fizeram a União Europeia e a China,que teve incremento da penalização para 125%,e “sinalizar para o mercado um teto até onde iríamos”. Balela.
Forças internas,além de Pequim e Bruxelas,se moveram desde quarta-feira passada para interromper a maior aposta até aqui do Trump 2.0. Investidores começaram a vender maciçamente títulos do Tesouro americano,movimento que indica o temor generalizado de uma recessão global provocada pela guerra comercial iniciada por Trump. Ao mercado,se juntaram apoiadores bilionários do presidente,dados a exageros de retórica ufanista mas com pavor de queimar dinheiro próprio em projetos "para o bem do país a longo prazo",como a eventual reindustrialização ianque. O fogo amigo veio inclusive daquele que se julga o mais importante deles,Elon Musk.
E,desde o último sábado,Main Street se juntou ao coro de Wall Street,nos protestos Hands Off!,com milhares de cidadãos,de Nova York e Los Angeles aos cafundós do Oregon e do Utah,exigindo que o presidente tire suas diminutas mãos da Justiça,do Executivo,da democracia,das universidades,e,também,de seus bolsos. As próximas manifestações estão programadas para o fim de semana da Páscoa.
Parte significativa dos consumidores americanos entendeu rapidamente que as tarifas de Trump foram impostas não apenas às demais nações,mas a eles próprios. Se recusam a gastar mais para adquirir o mesmo e a observar de braços cruzados o derretimento de seus investimentos nas bolsas em modo montanha-russa. Pesquisas que saíram do forno essa semana revelaram a desaprovação crescente ao republicano justo quando ele se aproxima dos primeiros 100 dias de segunda temporada em Washington.
Aprovação ao governo Trump cai
A Economist/You Gov deu 51% de narizes torcidos,um aumento veloz de 5 pontos percentuais em uma semana. A Morning Consult registrou 52% de nãos a Trump. E a Reuters-Ipsos apontou 53% de americanos insatisfeitos com o rumo do governo. O estrategista democrata Simon Rosenberg se apressou em lembrar que o ex-presidente Joe Biden tinha desaprovação média ligeiramente maior,de 54%,quando foi pressionado pelos correligionários a desistir do projeto da reeleição. Comparou alhos com bugalhos,mas não perdeu a chance de fazer graça.
Sem talento cômico e desprovido de elemento cênico do quilate da tabela improvisada com o nome de cada país erguida há uma semana por Trump,mas fiel ao teatro do "Dia da Libertação",o Secretário do Tesouro sugeriu,no anúncio desta quarta-feira,que a pausa nas tarifas era apenas mais um capítulo de uma estratégia pensada de modo sofisticado pelo governo Trump. Não havia confusão alguma. Usou a informação de que "mais de 75 países" iniciaram negociação com Washington sobre redução mútua de tarifas como testamento do sucesso da trumponomics 2.0. Mas horas mais tarde o próprio Trump reconheceria no Salão Oval da Casa Branca que se moveu pois "nos últimos dias a situação estava muito sombria". Um deslize no objetivo de se travestir capitulação temporária em êxito.
Não há garantia de que,em três meses,nova rodada de tarifas interrompa o respiro desta quarta-feira. E a penalização de 125% dada aos chineses,após a retaliação de Pequim sobre produtos americanos,mantém a previsão de alta da inflação nos EUA,pois "anula menor pressão nos preços com a universalização de 10% para os demais",afirmou ao New York Times o criador da firma especializada Inflation Insights. Mas a mudança de curso da Casa Branca foi tão abrupta quanto bandeirosa.
Na noite desta terça-feira,em celebração no Comitê Nacional do Partido Republicano,em Washington,o presidente usou uma vulgaridade para fazer rir a plateia de fãs. Afirmou que os países estavam todos "kissing my ass",o bajulando,para conseguir tarifas mais baixas no maior mercado do planeta. E anunciou,sem indício algum de recuo,que seu próximo alvo na guerra tarifária já estava até decidido. Seriam as grandes farmacêuticas. Boa parte dos remédios consumidos pelos americanos são produzidos no Canadá,Europa e Índia,e o governo quer pressionar as empresas do setor para se instalarem nos EUA.
Americanos de meia-idade,já desesperados com o derretimento de seus planos de aposentadoria,vinculados às ações,passaram a vislumbrar também contas de remédio mais caras. Descascaram a ideia nos programas matinais da televisão americana. Até a reviravolta horas depois. Que,jura a Casa Branca,fazia parte do roteiro repleto de twists assinado por Donald J. Trump. Então tá.
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