Em 1925, homens e mulheres viviam em universos paralelos e distintos. Progredimos

2025-03-20     IDOPRESS

Mulher vota na seção da Rua das Laranjeiras,durante a eleição para a Assembleia Nacional Constituinte,em 1933 — Foto: Acervo O GLOBO

RESUMO

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GERADO EM: 19/03/2025 - 19:47

Evolução dos Direitos das Mulheres: Um Século de Transformações no Brasil

Em 1925,homens e mulheres viviam em universos distintos,com mulheres sem direitos básicos. A jornalista reflete sobre essa evolução ao escrever um capítulo para um livro sobre os cem anos do GLOBO,destacando mudanças no comportamento social. A experiência de imersão no acervo do jornal revelou o passado minucioso do Rio de Janeiro e a transformação das relações de gênero ao longo do século.

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Passei os últimos meses às voltas com o texto de um dos capítulos de um livro coletivo sobre os cem anos do jornal. Isso não é spoiler — a existência do livro já foi noticiada aqui mesmo,no GLOBO,assim como a minha participação no elenco de autores. Foi uma experiência curiosa. Passei a vida escrevendo colunas e tentando ser sucinta,e de repente me vi diante da tarefa de preencher cerca de 30 páginas. Não digo que foi como um velocista correndo uma maratona porque não chega a tanto,mas com certeza foi alguém habituada a sprints de cem metros cobrindo,sei lá,a distância do Leblon ao Leme. Outra praia,literalmente.

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Minha irmã professora,que a cada segunda semana participa de uma banca e tem intimidade malsã com longas teses acadêmicas,me deu um conselho precioso: não reescrever nada antes de acabar o texto — ou ele não acaba nunca. Se não fosse por isso,eu ainda estaria limando e acrescentando coisas,mudando frases,trocando parágrafos de lugar. Em outras palavras,teria atrasado a missão ainda mais do que atrasei.

Não consigo adiantar texto. Seria muito útil ter sempre uma ou duas colunas prontas na gaveta,mas essa prática simples e salutar nunca esteve ao meu alcance. Tudo fica para a última hora: sou do tempo em que jornalista só escrevia sob pressão.

Fiquei com a cobertura de comportamento ao longo dos últimos cem anos,a evolução daquilo que começou como “jornalismo feminino” e hoje atende mais frequentemente por lifestyle (mas me dou conta agora de que não usei essa palavra,lifestyle,nem uma vez). Mais do que em qualquer outra área,exceto talvez tecnologia,é em comportamento que se percebem as maiores transformações do último século.

Quando o GLOBO chegou às bancas em 1925,homens e mulheres viviam em dois universos paralelos e muito distintos. Mulheres não podiam votar,não podiam administrar seus bens quando casadas,não podiam viajar ou trabalhar sem autorização do marido. Quando a pílula anticoncepcional chegou ao mercado,só podia ser comprada com apresentação de receita médica e certidão de casamento (e ainda assim a Igreja fez um escarcéu).

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Mergulhar no acervo do jornal,sobretudo em suas primeiras décadas,foi uma aventura. Ali está um Rio de Janeiro muito,muito pequeno,onde os menores fatos são registrados,e todas as notícias,por mínimas que fossem,traziam nome,idade,estado civil e endereço completo das personagens.

“O menor Waldemar,de nove annos de idade,morador à rua Izolina n. 12,ao passar pela Avenida Amaro Cavalcanti,caiu e feriu o joelho esquerdo. Waldemar foi medicado na Assistência do Meyer e a polícia do 19° distrito registou o facto.”

Há dezenas de parágrafos como esse todos os dias. É um que pulou do bonde em movimento,o outro que levou bengaladas na Avenida Rio Branco,as Marias que brigaram na casa de cômodos.

E há,sobretudo,as janelas inesperadas para o passado:

“Teria sido apanhada pelo “papão”?... O Sr. Salomão José Elias,negociante estabelecido á rua Santa Rosa n. 297,na vizinha capital fluminense,queixou-se,hoje,á policia da 2ª circumscripção haver desapparecido de sua casa,pela madrugada,a menor Cezinia,de 16 annos,branca,solteira,e que lhe estava entregue para os serviços domesticos. A policia registou a communicação e vae encetar diligencias para a descoberta do paradeiro da menor.”

Progredimos.

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