03-31
‘Tony Bellotto e Preta Gil são extremamente resilientes’, diz oncologista que cuida dos cânceres dos dois artistas
2025-03-20
HaiPress
Oncologista do Hospital Sírio Libanês,Fernanda Capareli — Foto: Edilson Dantas/ Agência O Globo
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 19/03/2025 - 17:36
Resiliência de Tony Bellotto e Preta Gil na Luta Contra o Câncer
A oncologista Fernanda Capareli,em entrevista,destaca a resiliência de Tony Bellotto e Preta Gil no enfrentamento ao câncer. Preta,diagnosticada com câncer colorretal,passou por quimioterapia e cirurgia,resultando em uma colostomia. Tony descobriu câncer de pâncreas em um check-up e aguarda cirurgia. Ambos servem de exemplo pela transparência e atitude positiva em meio à luta contra a doença.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
CLIQUE E LEIA AQUI O RESUMO
Em janeiro de 2023,Preta Gil foi diagnosticada com câncer colorretal. De lá para cá,passou por sessões de quimioterapia,radioterapia e cirurgias. A última,feita no fim de 2024,foi para extirpar tumores na região da pelve. Preta saiu do procedimento com uma bolsa de colostomia definitiva,dispositivo que serve para a eliminação de fezes. Em março deste ano,Tony Bellotto foi às redes dizer que havia sido diagnosticado com câncer de pâncreas e que passaria por uma operação.
Ambos estão sob os cuidados da médica Fernanda Capareli,oncologista especializada em tumores gastrointestinais,do Hospital Sírio-Libanês,em São Paulo. São doenças diferentes,com histórias diferentes. Mas a maneira como ambos lidam com a situação,de forma transparente,franca e ‘extremamente resiliente’,como observa a médica Capareli na entrevista a seguir,tem servido de exemplo para centenas de pacientes quem lidam com o câncer.
Como foi detectado o câncer do Tony Bellotto?
Ele descobriu a doença durante um check-up. Um ultrassom de rotina levantou a suspeita,identificou um cisto no pâncreas. A confirmação veio com exames complementares,ressonância e tomografia. O Tony faz parte de um grupo de não mais de 30%,que são os pacientes que descobrem a doença em fase localizada passível de cirurgia. Esse tumor não fica quieto por muito tempo. Ela tem um comportamento de se transformar em metástase precocemente. No caso dele não foi detectada lesão secundária.
Como ele reagiu ao diagnóstico?
É muito comum o paciente passar por algumas fases ao saber que está com câncer: da surpresa,da negação,da aceitação. O Tony não teve a negação,não fez a pergunta ‘por que eu?’. A postura dele é ‘como podemos resolver isso’.
O câncer de pâncreas costuma ser silencioso. Existe algum sintoma comum para estar atento?
Alguns descobrem no ortopedista com uma dor nas costas. O pâncreas é mais próximo da coluna do que a parede abdominal. Um tumor,uma pancreatite,uma obstrução,podem dar desconforto nas costas. Mas é raro. Ele costuma ser achado em meio a exames de rotina.
O Tony Bellotto é uma pessoa com bons hábitos de vida,surpreende ele ser diagnosticado com câncer de pâncreas?
Todos nós estamos predispostos a ter câncer. O maior fator de risco para a doença é o envelhecimento. Mesmo a pessoa tendo uma vida estritamente saudável em todos os aspectos,se é que isso é possível,não anula a possibilidade de tumor. No caso dele,a despeito de bons hábitos,alguma interação fez com que uma célula normal se transformasse numa célula diferente,cancerígena. Existe uma complexidade no câncer em si que é a de ter múltiplas vias. Os cânceres são heterogêneos,mesmo sob ponto de vista molecular. Um tumor nasce das células do indivíduo. Ele tem fatores de crescimento diferentes,mutações diferentes,sensibilidade diferentes aos tratamentos. Ou seja,cada caso é um caso.
Como será o tratamento dele?
O protocolo não está completamente fechado,mas ele deverá fazer uma cirurgia nas próximas 2 ou 3 semanas e depois se submeter a uma quimioterapia para tratar eventuais células não detectadas.
Como está a saúde da Preta Gil neste momento?
A Preta está em recuperação de uma cirurgia de grande porte e os próximos passos vão depender dos exames de acompanhamento,como ressonância magnética e PET-CT,que deverão ser feitos até o fim desta semana. Não há lesão visível. Esses exames deverão ser repetidos a cada três meses. A cada 2 ou 3 semanas ela tem feito exames de sangue para ver função renal e outras taxas sanguíneas. Depois de um diagnóstico de um câncer,os exames regulares são fundamentais. O que define se o paciente está curado ou não é o tempo. Na maioria dos tumores,a maior chance de recidiva é nos primeiros 18 meses,período de tempo que chamamos de ‘golden hour’,quando os exames são feitos em intervalos menores. O acompanhamento segue no mínimo por mais cinco anos e há casos em que tem de ser para sempre. Em meados de abril,Preta deverá voltar ao Memorial Sloan Kettering Cancer Center (hospital de referência no tratamento oncológico nos Estados Unidos),para mostrar os resultados da cirurgia.
A Preta Gil foi diagnosticada com câncer de câncer colorretal com menos de 50 anos,um cenário cada vez mais comum entre os jovens. Qual é a causa desse aumento?
Sob ponto de vista epidemiológico a Preta é o retrato da realidade atual. O câncer colorretal tem diminuído na população global. Isso é fruto de um esforço médico imenso de rastreio,com exames de colonoscopia e sangue oculto nas fezes. Mas temos visto aumento da incidência entre jovens. Trata-se de um grave problema de saúde pública. Esse é um tipo de tumor que tem relação com hábitos de vida,vindo muitas vezes de idades mais precoces,como infância e adolescência. Estudos sinalizam que uma dieta a longo prazo mais rica em gordura animal,com menos fibras e menos vitaminas crie uma flora intestinal e mucosa mais propensas a inflamação e pólipos. E isso aumenta o risco de uma célula degenerar para uma tumoral. Cigarro é grande fator de risco também. Existe uma informação recente na medicina que prega tolerância zero ou muito próxima de zero para o álcool e os ultraprocessados. Não existe dose segura de bebida alcoólica e ultraprocessado,portanto. Mas reforço que os hábitos de vida ruins contribuem para um câncer,eles não são determinantes. Não há uma única causa,é uma doença multifatorial.
Como devem ser os exames de rastreio do câncer colorretal?
Diferentemente do que acontece com o câncer de pâncreas,existe um protocolo bem definido para o colorretal. Quem não tem histórico da doença em parentes de primeiro grau (pais,irmãos e filhos) deve começar a fazer colonoscopia aos 45 anos. Quem tem um familiar de primeiro grau com o câncer deve começar aos 40 anos ou 10 anos antes da idade em o parente foi diagnosticado.
A Preta Gil exibe a bolsa de colostomia publicamente. O quanto isso é importante para a desmitificação de tabus na população em geral?
Ela tem uma postura que está fazendo um grande bem para muitas e muitas pessoas. Tenho pacientes que dizem ‘Se eu tivesse visto a maneira como ela lida com isso,eu teria tido menos vergonha,me aceitaria mais’. A Preta desmistificou o que é uma ostomia (cirurgia em que é criado um percurso de saída alternativo para as fezes ou a urina). Isso é um ganho do ponto de vista populacional enorme. É legal usar? Claro que não. Mas foi essencial. Muitos param a vida com um diagnóstico,um tratamento,uma ostomia. Ela é um grande exemplo de vida plena.
Declaração: Este artigo é reproduzido em outras mídias. O objetivo da reimpressão é transmitir mais informações. Isso não significa que este site concorda com suas opiniões e é responsável por sua autenticidade, e não tem nenhuma responsabilidade legal. Todos os recursos deste site são coletados na Internet. O objetivo do compartilhamento é apenas para o aprendizado e a referência de todos. Se houver violação de direitos autorais ou propriedade intelectual, deixe uma mensagem.