Jessica Chastain estará no filme 'Dreams': temas como perseguição a imigrantes,machismo,luxo e rótulos femininos estão em pauta — Foto: Stephanie Cardinale/Getty Images

RESUMO

GERADO EM: 14/03/2025 - 16:55

Jessica Chastain aborda imigração e machismo em novo filme "Dreams"

O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.

CLIQUE E LEIA AQUI O RESUMO

A trajetória de Jessica Chastain,de 47 anos,lembra um típico conto hollywoodiano,daqueles em que o protagonista,sem eira nem beira,mas um poço de determinação,enfrenta todo o tipo de adversidade e triunfa no final. Filha de mãe solteira,a ruiva de estatura mediana superou a pobreza da juventude,conseguiu uma bolsa de estudos na Julliard,em Nova York,a escola de artes de maior prestígio dos Estados Unidos e,apadrinhada por Al Pacino e Ralph Fiennes,conquistou seu lugar em um céu dominado por louras altas.

Jessica já ganhou todos os prêmios possíveis — inclusive o Oscar,por “Os olhos de Tammy Faye” (2021),mas continua em busca de personagens que passem longe do padrão da esposa ideal que lhe ofereciam no início de carreira. Como Jennifer,a socialite que mantém um tórrido caso com um bailarino mexicano 13 anos mais jovem no longa “Dreams”,de Michel Franco. “Ela se sente muito solitária dentro da própria família. E é em Fernando,um jovem bailarino que a fundação de seu pai apoia,que Jennifer encontra alguém capaz de tratá-la como uma mulher de corpo inteiro”,explicou a atriz e ícone fashion californiana,durante a pré-estreia mundial do filme na 75ª edição do Festival de Berlim,no mês passado.

“Dreams” é um dos muitos projetos com o selo da Freckle Films,a produtora que a estrela criou em 2016 para garantir independência criativa. O filme toca em temas como perseguição a imigrantes,luxo e rótulos femininos,questões que a atriz desenvolve na entrevista a seguir.

Jessica Chastain no Oscar — Foto: Jutharat Pinyodoonyachet/The New York Times

"Dreams” a veste com figurinos luxuosos. Como é a relação com o guarda-roupa de seus filmes?

Bem,no caso desse projeto,que não tinha muito dinheiro,usei as minhas próprias roupas (risos). Sério! O figurinista foi até a minha casa e tirou o que gostou do meu armário. Então,algumas das peças que a personagem usa talvez já tenham sido vistas em tapetes vermelhos. O oposto aconteceu com “Memory” (2023),que também fiz com o Michel,porque fui comprar o figurino da minha personagem na Target (popular rede de lojas de departamentos americana).

Já se acostumou,na vida real,com o luxo e a riqueza do mundo em que Jennifer transita?

A vida de Jennifer não poderia ser mais diferente da minha até uns dez anos atrás (antes do sucesso profissional). Tenho muita empatia pelas pessoas que têm dificuldade para ter o que comer em casa. Houve momentos,quando muito jovem,em que vi minha mãe tentando descobrir como alimentar a família. Tive que trabalhar duro para fazer de Jennifer uma pessoa alheia à experiência do imigrante,à disparidade de riquezas. E,ao mesmo tempo,tentar fazê-la se sentir uma pessoa realmente boa,voltada para a comunidade,como defensora de causas.

Como se sente promovendo,no cinema,o relacionamento de uma mulher com um homem mais jovem?

É interessante porque vários outros filmes têm tocado nesse assunto. Isso me deixa animada. Afinal,cresci em uma indústria e em uma cultura em que o que mais se vê é o relacionamento entre homens mais velhos e mulheres mais jovens. É normalizado. Então,fico feliz com filmes como “Baby girl”,com Nicole Kidman. Mostram que as mulheres estão sendo tratadas como seres humanos e não como objetos. Em “Dreams”,a diferença de idade entre Jennifer e Fernando é de 13 anos. Se a situação fosse oposta,um homem mais velho do que a amante,ninguém diria nada.

Jessica Chastain e o colar de esmeraldas no Oscar — Foto: Getty Images

O filme fala sobre deportação de imigrantes não documentados,política mais dura nesta administração Trump. Como lida com essa situação?

Sempre tivemos problemas com a forma com a qual os imigrantes têm sido tratados nos EUA. Agora,sob Trump,falam muito mais,mas também havia muitas deportações durante o governo Biden. Na verdade,não creio que nenhum deles tenha dado o respeito que os imigrantes merecem. Mas não chego ao ponto de sentir vontade de deixar o país,como alguns colegas estão dizendo. Acredito no que há de bom nos Estados Unidos,e quero fazer parte disso. Sair é desistir,e não sou assim. Não vou abandonar o lugar onde nasci por causa de uma maçã podre.

Você é da Califórnia e,recentemente,escolheu Nova York para morar e criar seus dois filhos...

Sempre soube que moraria em Nova York,o meu lugar preferido no mundo. Adoro andar na rua e ouvir tantas línguas,tantos sotaques diferentes. Encontrar todo mundo no metrô,não importa o grupo econômico ao qual você pertença.

As pessoas te reconhecem no metrô?

Sim! Mas em Nova York você não é a parte mais importante do dia de alguém (risos). As pessoas têm outras coisas mais importantes para resolver,o que é ótimo. Eu também tenho coisas a fazer,como levar os meus filhos para a escola.