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Romance de estreia da roteirista Denise Crispun, 'Constelações hipócritas' aborda temas como luto, maternidade e ressentimento
2025-03-18
HaiPress
A dramaturga,roteirista e escritora Denise Crispun — Foto: Rafael Moraes - 9/5/2013
RESUMO
Sem tempo? Ferramenta de IA resume para vocêGERADO EM: 17/03/2025 - 20:08
"Romance de Denise Crispun explora luto e maternidade com poesia"
O romance de estreia de Denise Crispun,"Constelações hipócritas",vencedor do prêmio Maria Carolina de Jesus,aborda luto,maternidade e ressentimento por meio da personagem Sara. Após anos de estagnação,ela rompe seu silêncio e enfrenta traumas passados. Com uma escrita poética e imagética,o livro retrata a complexidade da vida e das emoções humanas,capturando a atenção do leitor através de uma narrativa não linear e rica em simbolismos.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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Quando a energia advinda do centro da Terra atinge seu ponto ápice em forma de calor,a inércia é quebrada e inicia-se o movimento das placas tectônicas. A depender de sua magnitude,essa perturbação pode tanto passar despercebida à sensibilidade humana,quanto despertar abalos sísmicos de consequências catastróficas. O mesmo ocorre com a vida de Sara — que,após um longo período de estagnação,resolve romper o silêncio interior e lançar-se em uma viagem incerta na tentativa de curar feridas do passado que,até hoje,ainda insistem em doer.
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A associação entre o terremoto e a trajetória da personagem não é mera coincidência,mas parte fundamental de “Constelações hipócritas”,primeiro romance de Denise Crispun,vencedor do prêmio Maria Carolina de Jesus (2023). Em capítulos curtos e uma escrita dinâmica e poética,as paisagens e os elementos naturais — como árvores,pedras,animais e água — são frequentemente utilizados para ilustrar os estados emocionais da personagem que,misteriosa,tem predileção pelo silêncio,pelo vazio e pela palavra não dita.
Não à toa,Sara encontra na fotografia sua forma de sustento. Uma expressão artística capaz de comunicar,sem o uso de palavras e de maneira universal,seu olhar atento sobre tudo que,aparentemente,é invisível ao olhar comum. A riqueza imagética se faz presente de modo significativo no romance,seja pelas pequenas fotografias espalhadas ao longo das páginas,seja pela narrativa entrecortada que se assemelha a cenas de um filme. Nesse aspecto,autora e personagem se encontram: tanto Sara quanto Denise — que também é roteirista e dramaturga — compartilham da capacidade de criação de sentidos através das imagens e seus símbolos.
Capa de 'Constelações hipócritas' — Foto: Divulgação
O que se destaca ao longo do romance não é o que normalmente se entende como harmônico e belo,e sim uma estranheza que faz com que a atenção se demore um pouco mais. Uma árvore torta,uma flor que nasce em um local inóspito,uma raiz crescendo em formato inusitado. Da mesma forma,um olhar de vergonha capturado enquanto a funcionária guarda as compras do mercado,uma busca incessante de um filho pela aprovação do pai,uma brincadeira entre duas crianças que poderia se desenrolar em um desfecho fatal,uma ferida que insiste em doer nas horas mais inoportunas. Aos poucos,essa sucessão de pequenos acontecimentos até então específicos da história da personagem vão,delicadamente,tecendo identificação com o leitor ao retratar temas como luto,traumas familiares,ressentimento,culpa,juventude,maternidade e as dores físicas e psicológicas que se confundem e acompanham a existência humana de maneira crônica.
Aos poucos,Sara inspira carisma ao romper estereótipos de gênero e apresentar ao leitor uma mulher irreverente,independente,aventureira de cabelos rebeldes,pouquíssimo interessada em relacionamentos amorosos e que aprende com a vida a colocar seus interesses acima do que lhe é socialmente esperado. Já no primeiro capítulo,intitulado “Primeiro movimento”,Sara inicia seu seu terremoto interior ao procurar pelo paradeiro de um filho que não pôde criar,por escolha da família. A trama começa justamente quando resolve reivindicar para si as escolhas sobre sua própria história,e que lhe foram arrancadas quando era jovem e vulnerável demais para impor sua voz no mundo.
O que se entende por início,meio ou fim é relativo,no entanto. A trajetória errante de Sara,a forma como ela reage — ou paralisa — diante dos acontecimentos da vida,remete à natureza de um rio sinuoso,que vai deixando emergir naturalmente os episódios do presente e do passado de forma não linear.
“Constelações hipócritas” é um nome adequado para quem busca revelar esse estranho universo da natureza humana: bonito,misterioso e brilhante à distância; repleto de explosões,estrelas mortas,buracos negros e poeira cósmica,se visto de perto.
Flor Castilhos é jornalista
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