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Trump tenta usar sul-africanos brancos como um 'alerta' para seus seguidores nos Estados Unidos
2025-03-17
IDOPRESS
Ativistas da Aliança Democrática,partido de oposição na África do Sul,durante protesto na Cidade do Cabo — Foto: Joao Silva/The New York Times
RESUMO
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Trump alerta para "perseguição" a brancos na África do Sul e age nos EUA
Donald Trump usa a situação dos sul-africanos brancos como alerta nos EUA,alegando perseguição estatal contra eles,apesar dos dados não apoiarem essa visão. Ele destaca a África do Sul para promover a ideia de que,sem intervenção,os EUA enfrentarão discriminação contra brancos. Trump assinou ordens para facilitar a entrada de africâneres nos EUA,reforçando seu apoio a interesses brancos.O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
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Se ouvirmos a opinião do presidente dos EUA,Donald Trump,e de seus aliados,ele dirá que a África do Sul é um lugar terrível para as pessoas brancas. Segundo o republicano,elas enfrentam discriminação,são preteridas em vagas de emprego e vivem sob a constante ameaça de violência ou de terem suas terras roubadas por um governo corrupto,liderado por negros,que deixou o país em frangalhos.
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Os números contam uma história diferente. Apesar de serem apenas 7% da população,os brancos controlam quase metade das terras da África do Sul. As estatísticas policiais não os mostram como mais vulneráveis a crimes violentos do que outras fatias da população. E os sul-africanos brancos estão em situação bem melhor dos que os negros em praticamente todos os indicadores econômicos.
Mesmo assim,Trump e seus aliados apresentam uma narrativa própria sobre a África do Sul para avançar com um argumento próprio dentro de casa: se os EUA não barrarem as iniciativas de promoção de diversidade,o país se tornará uma nação disfuncional onde a discriminação contra os brancos será rotina.
— A ideia é instigar o medo nas pessoas brancas nos EUA e em outros lugares: “nós brancos estamos sob ameaça” — afirmou Max du Perez,um escritor e historiador sul-africano,branco,ao comentar a descrição que Trump faz ao seu país.
Mas,como ele aponta,os brancos prosperaram desde o fim do regime do apartheid,em 1994.
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Os paralelos entre as tentativas da África do Sul para desfazer as injustiças dos anos do apartheid e a longa jornada dos EUA para lidar com o legado da escravidão e com as chamadas “Leis Jim Crow”,que reforçaram a segregação no país,com frequência surgem entre os apoiadores de Donald Trump.
Ernst Roets,um ativista branco na África do Sul,disse que quando conversou com ativistas conservadores dos EUA,por vezes ouviu deles que “era necessário olhar para a África do Sul,porque é o que vai acontecer por aqui se não formos cautelosos”.
Desde a queda do apartheid,há três décadas,o governo democrático da África do Sul chegou ao poder com a promessa de reparar as desigualdades do sistema que deixou a maioria da população negra às margens. Mesmo assim,o presidente Nelson Mandela em boa parte permitiu que os brancos mantivessem suas riquezas,como forma de garantir uma transição pacífica.
Seu partido,o Congresso Nacional Africano,aprovou leis para reduzir o abismo da desigualdade entre brancos e negros. Recentemente,o país adotou uma medida que permite ao governo confiscar terras privadas que sejam de interesse público,por vezes sem compensação.
A lei ainda não foi usada,embora alguns sul-africanos brancos — e Trump — digam que ela atinge,de forma injusta,os donos de terras e fazendeiros,em sua maioria brancos,apesar de décadas de políticas anti-apartheid.
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Trump construiu sua identidade política em parte como um protetor da América branca. Brigou para salvar símbolos dos confederados no sul do país,chamou treinamentos sobre discriminação racial de “propaganda antiamericana”,e defendeu publicamente supremacistas brancos.
Cortar a ajuda à maior parte da África,ao mesmo tempo em que defende os africâneres —a minoria étnica branca sul-africana que liderou o regime do apartheid — parece ser a mais recente prova do comprometimento de Trump com os interesses brancos.
No mês passado,o presidente assinou uma ordem executiva garantindo status de refugiados aos africâneres e suspendendo toda a ajuda à África do Sul,em parte como resposta à reforma das terras. Ele disse em sua rede social,no começo do mês,que os EUA facilitariam a obtenção de cidadania para os fazendeiros sul-africanos,muitos dos quais são africâneres. Na sexta-feira,o secretário de Estado,Marco Rubio,chamou o embaixador da África do Sul em Washington,Ebrahim Rasool,de “político incitador racial que odeia os EUA” e o expulsou.
— Trump está dizendo aos brancos de todos os lugares que ele usará seu poder para proteger e impulsionar seus interesses,e que os fatos não importam — disse Khalil Gibran Muhammad,professor de Estudos Afro-Americanos na Universidade Princeton.
Alguns africâneres elogiaram a postura de Trump. Ativistas foram a Washington em fevereiro para pedir apoio ao seu governo. Um integrante da Casa Branca descreveu uma das delegações como “líderes dos direitos civis”.
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Muitos dos aliados do presidente destacaram o que veem como dificuldades dos brancos sul-africanos. Elon Musk,que nasceu na África do Sul mas não é africâner,acusou o governo do país de promover leis racistas,e falsamente alegou que fazendeiros brancos estavam sendo mortos todos os dias.
Depois que Roets participou do programa de Tucker Carlson na Fox News,em 2018,o apresentador publicou em suas redes sociais que “fazendeiros brancos estavam sendo brutalmente assassinados na África do Sul por causa de suas terras”.
Carlson produziu uma matéria descrevendo tomadas de terras e homicídios. Trump,que estava em seu primeiro mandato,marcou o jornalista em uma publicação em uma rede social na qual dizia ter ordenado uma investigação sobre a tomada de terras e “o assasinato em grande número de fazendeiros,mesmo sem o governo ter tomado uma propriedade sequer até hoje.
No universo de Trump,esses temas estão sendo recirculados como sinais de alerta para os Estados Unidos.
Muitos eleitores sul-africanos,não importa sua raça,concordam que o Congresso Nacional Africano criou um país com muita corrupção,sem infraestrutura,com altos níveis de violência e desigualdade,onde os negros são os mais pobres. Na última eleição,o partido perdeu a maioria no Parlamento pela primeira vez desde o fim do apartheid.
Analistas apontam que a sigla fez grandes esforços para adotar políticas pró-mercado que permitiram aos sul-africanos brancos manter seu poder econômico. Na verdade,muitos cidadãos criticam Mandela por não ter ordenado uma redistribuição mais agressiva de terras controladas pelos brancos para a população negra,cujas famílias foram expulsas dessas mesmas terras durante o apartheid e o período colonial.
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Apoiadores da lei das terras esperam que ela acelere o objetivo de devolver as propriedades aos sul-africanos negros. Mas para Trump,os africâneres é que são as vítimas “de uma injusta discriminação racial”,como detalhou em sua ordem executiva assinada no mês passado.
Descendentes de colonizadores holandeses que chegaram ao sul da África em 1652,os africâneres atraíram as atenções do mundo no começo do século passado,como uma pequena tribo que enfrentou o poderoso império britânico em batalhas territoriais (apesar de perderem a guerra”. Os britânicos os viam como grosseiros,e essas lutas criaram divisões profundas entre as duas maiores populações brancas do país,que persistem até hoje.
Embora o presidente americano geralmente seja contra a entrada de refugiados e pessoas em busca de asilo nos EUA,ele abriu uma avenida especial para alguns africanos brancos chegarem ao país.
Isso não necessariamente correspondeu aos desejos de seu público-alvo. Muitos africâneres dizem que,embora apreciem o apoio de Trump,assim como suas alegações de perseguição,eles preferem permanecer em seu país,que eles consideram ser seu lugar de direito.
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