Elis Regina: biografia ampliada, doc e shows marcam os 80 anos da cantora

2025-03-17     IDOPRESS

Elis Regina — Foto: Divulgação

RESUMO

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GERADO EM: 14/03/2025 - 22:09

Legado de Elis Regina: Biografia,Show e Debates sobre Imagem Digital

Elis Regina,que completaria 80 anos,continua viva através de projetos diversos,como uma biografia ampliada por Julio Maria e um show que recria sua voz. João Marcelo Bôscoli,seu filho,dedica-se a manter o legado da mãe,recusando propostas que não honrem sua memória. A recriação digital da imagem de Elis gerou debates,mas reforça seu impacto duradouro. Novos lançamentos incluem remixes e uma HQ.

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Aos 22 anos,em 1992,João Marcello Bôscoli leu uma reportagem afirmando que Elis Regina,uma década após sua morte,já estava esquecida. Diz que,desde então,chamou para si a missão de trabalhar para que sua mãe não deixasse de despertar interesse. Em meio a projetos pessoais na empresa Trama,o produtor musical dedica a isso boa parte de suas horas:

— Se eu ganhasse na Mega-Sena,ficaria fazendo coisas da Elis. Eu não ganhei na Mega-Sena e fico fazendo coisas da Elis. É o que eu faria de toda forma. Dando dinheiro ou não,é das coisas que mais me dão prazer.

Elis Regina Carvalho Costa completaria 80 anos nesta segunda (17). Não faltam coisas envolvendo sua voz e sua imagem,de livro a comercial de TV,de show a história em quadrinhos. João Marcello se orgulha de ter vetado apenas uma proposta na vida — um monólogo sem qualquer relação com Elis,segundo sua avaliação. Toma iniciativas e acolhe as que vêm de outras pessoas,dando liberdade a elas.

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É o caso de “Nada será como antes”,biografia escrita pelo jornalista Julio Maria,colunista do GLOBO,que ganha pela Companhia das Letras uma segunda edição ampliada. João Marcello e seus irmãos mais novos,os cantores Pedro Mariano e Maria Rita,não pediram para ler antes da publicação a primeira versão,de 2015,nem a nova. Julio aponta que Elis continuou a ser assunto nos últimos dez anos:

— Tem muitos artistas vivos que não produzem mais novidades,mas Elis morreu há mais de 40 anos e está viva,criando fatos biográficos.

Elis Regina no programa Mulher 80 — Foto: Anibal Philot

Clássicos

Um fato acontecerá no próximo dia 28 no Espaço Unimed,em São Paulo: um show reunindo João Bosco,Ivan Lins,Fagner,Pedro Mariano e a própria Elis. Graças a uma restauração de gravações encabeçada por João Marcello,a voz da cantora será ouvida,à capela ou com banda,em músicas como “Fascinação” e “Como nossos pais”. Imagens dela,só no telão.

— Não haverá holograma — avisa o produtor. — Já fui procurado por uma empresa americana,mas ainda parece boneco. Quando não parecer,vou ser o primeiro a querer. Quando tiver música em spray,vamos lançar Elis em spray. Não tenho fetiche.

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A recriação da imagem da cantora provocou forte polêmica em 2023. A inteligência artificial permitiu que ela contracenasse com Maria Rita num comercial.

— Dei 53 entrevistas e considerei o debate público de alto nível. Quando aceitei a proposta,não sabia exatamente o que era. Mas aceitaria de novo — diz João Marcello,destacando só ter permitido quatro campanhas publicitárias até hoje e recusado recentemente a proposta de uma bet para usar a mãe cantando “Aprendendo a jogar”. — Não aceitaria por dinheiro nenhum.

O imbroglio do comercial da Volkswagen é dissecado por Julio na nova edição de seu livro. Outra novidade são duas cadernetas em que Elis detalhou o que pretendia fazer em 1982,inclusive escolher canções para um novo disco dentre as 26 listadas. As anotações reforçam,para o autor,que a cantora não tinha a menor intenção de desaparecer quando morreu,em 19 de janeiro de 1982,aos 36 anos,por uma mistura de álcool com cocaína.

Biógrafo da artista,Julio Maria diz que “a estética da composição brasileira foi repensada para ser cantada por Elis” — Foto: Paulo Moreira

Já na edição de 2015,Julio tinha levantado tudo sobre a morte,entrevistou testemunhas e o então namorado da cantora,o advogado Samuel Mac Dowell. Elis usava cocaína havia dez meses,o que afetou a temporada do show “Trem azul”,em São Paulo.

— A gente viu Amy Winehouse morrendo. Elis também ofereceu isso. Era o espetáculo da agonia. Todo mundo que assistiu a “Trem azul” achou aquilo estranho. Ela terminou solitária – diz o biógrafo.

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Para ele,Elis “sempre esteve só”. Aos 15 anos,revelada na Porto Alegre natal,já era disputada por empresários e gravadoras. Depois que estourou em Rio e São Paulo,passou a ser procurada por compositores que sonhavam ter suas músicas interpretadas por ela. Mas nunca integrou qualquer corrente,na visão de Julio.

— Ela não foi da bossa nova,não foi da Jovem Guarda apesar de gravar depois Roberto Carlos; não foi da Tropicália,embora quase tenha gravado um disco com Rogério Duprat; não foi do rock nacional,apesar de dizerem que tinha voz de roqueira; não estava com o pessoal do samba,embora gravasse sambas muito bem; não esteve no time dos jazzistas de São Paulo — elenca ele. — Tudo demonstra que ela estava sempre só. E isso aumenta a sua revolução. Chegou cantando para fora quando todo mundo estava cantando para dentro. A estética da composição brasileira foi repensada para ser cantada pela Elis. Ela não gravava coisas simples. O sarrafo ficou alto.

‘Gosto muito de ser filho de Elis,fui muito amado’

Para João Marcello,a mãe “não foi sozinha do ponto de vista humano”.

— Mas houve muito sofrimento por ser uma mulher de um metro e meio provedora de um monte de gente,todo mundo querendo um pedaço — diz ele,que festeja poder “trabalhar” com Elis. — Não tenho como almoçar com ela no domingo,mas tenho como ir para o estúdio e gravar algo com ela. Há 43 anos eu não me encontro com essa pessoa. Quando abraço meus filhos,é como se eu estivesse a abraçando um pouco. Gosto muito do fato de ser filho dela,fui muito amado.

Dois anos após Elis morrer,saiu o disco “Luz das estrelas”. Uma banda da época deu sonoridade nova a gravações de 1976 que não tinham sido lançadas. João Marcello também está dando outra roupagem a este material,mas com instrumentos e equipamentos pré-1976. Em 17 de março de 2024,no início da celebração dos 80 anos,chegou às plataformas a versão de “Para Lennon e McCartney”. Ainda há nove faixas para sair,como “Mestre-sala dos mares” e “Corsário”,de João Bosco e Aldir Blanc.

Elis Regina com os filhos Pedro,Maria Rita e João Marcello em 1978 — Foto: Arquivo pessoal/João Marcello Boscoli

João Marcello está negociando a venda para o cinema de seu livro “Elis e eu” (2019). Hugo Prata,da cinebiografia “Elis” (2016),deve dirigir o documentário “Elis com a palavra”,baseado nos vídeos e áudios recolhidos pelo pesquisador Allen Guimarães. Ainda não foi exibido um documentário em três episódios concluído antes da pandemia para a HBO.

Também há o desejo da atriz e produtora Bianca Comparato de realizar um filme de ficção sobre o clássico disco “Elis & Tom”,de 1974. O importante LP que a cantora gravou no ano anterior,“Elis”,está sendo remixado e remasterizado por João Marcello.

A Trama ainda financiou o desenvolvimento,pelo artista Gustavo Duarte,da personagem Elis em história em quadrinhos. O livro sairá neste ano pela editora Record.

‘Elis: Nada será como antes’

Autor: Julio Maria. Editora: Companhia das Letras. Páginas: 480. Preço: R$ 109,90.

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