Companhia, refeições e cuidados médicos: idosas japonesas solitárias cometem crimes para irem presas

2025-01-20     IDOPRESS

Idosas recorrem às prisões para terem qualidade de vida no Japão — Foto: Reprodução/CNN

RESUMO

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GERADO EM: 19/01/2025 - 16:13

Idosas no Japão cometem crimes por solidão: desafios e soluções

No Japão,idosas cometem crimes para serem presas devido à pobreza e solidão. Prisões se assemelham a casas de repouso,oferecendo cuidados e companhia. Maioria é detida por furto para sobreviver. Autoridades reconhecem problema e buscam apoio pós-libertação. Desafio crescente de envelhecimento da população e falta de apoio familiar. Medo da reintegração social e necessidade de programas de suporte. Aumento da população idosa exige mais profissionais de saúde. Emocionante relato de detenta idosa que reflete sobre sua situação ao deixar a prisão.

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A realidade na maior prisão feminina do Japão é semelhante à de diversas casas de repouso ao redor do mundo: centenas de residentes idosas,com seus rostos e mãos enrugados,andando lentamente pelos corredores. Na Prisão Feminina de Tochigi,localizada ao norte de Tóquio,os funcionários ajudam algumas detentas a comer,tomar medicamentos e tomar banho.

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A alta população carcerária mais velha expõe feridas abertas do Japão,como o envelhecimento geral da sociedade japonesa e a questão da solidão desta grande parcela populacional,relata a rede americana CNN. Guardas explicam que estas questões são tão graves que parte das prisioneiras idosas escolhem continuar presas.

— Há até pessoas que dizem que pagarão 20 mil ou 30 mil ienes (cerca de R$ 778 a R$ 1.167) por mês (se puderem) para viver aqui para sempre — disse Takayoshi Shiranaga,um oficial da prisão de Tochigi,durante entrevista à CNN.

A detenta Yoko,de 51 anos,foi presa cinco vezes nos últimos 25 anos,acusada de tráfico de drogas. Ela afirma que,toda vez que retorna,a população carcerária parece ficar mais velha.

— (Algumas pessoas) fazem coisas ruins de propósito e são pegas para que possam voltar para a prisão novamente,se ficarem sem dinheiro — afirma Yoko (pseudônimo usado para proteger sua identidade).

Em Tochigi,uma em cada cinco detentas é idosa,e a prisão ajustou seus serviços para levar em conta a idade deles. No Japão,o número de prisioneiros com 65 anos ou mais quase quadruplicou de 2003 a 2022 — e isso também alterou a forma que o encarceramento é conduzido no país.

— Agora temos que trocar suas fraldas,ajudá-los a tomar banho,a comer — disse Shiranaga à rede americana.

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— A essa altura,parece mais uma casa de repouso do que uma prisão cheia de criminosas condenadas.

Entre os principais crimes cometidos por presidiários idosos,o furto é destaque,especialmente entre as mulheres. Em 2022,mais de 80% das mulheres idosas presas em todo o país estavam na cadeia por roubo,de acordo com dados do governo japonês.

Muitas fazem isso para sobreviver — 20% das pessoas com mais de 65 anos no Japão vivem na pobreza,de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE),em comparação com uma média de 14,2% nos 38 países membros da organização.

Akiyo,uma detenta de 81 anos,com cabelos grisalhos curtos e mãos salpicadas de manchas da idade era uma das detentas que estava cumprindo pena por furto de alimentos.

— Há pessoas muito boas nesta prisão — disse Akiyo (pseudônimo usado para proteger sua identidade) à CNN.

— Talvez esta vida seja a mais estável para mim.

Dentro de Tochigi,as detentas recebem refeições regulares,assistência médica gratuita e cuidados com os idosos,além da companhia que não têm do lado de fora. Akiyo conhece muito bem o fardo do isolamento e da pobreza. Esta é a segunda passagem da idosa pela prisão,depois de ter sido presa anteriormente,aos 60 anos,por roubar comida.

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— Se eu fosse financeiramente estável e tivesse um estilo de vida confortável,definitivamente não teria feito isso — admitiu.

Quando cometeu seu segundo furto,Akiyo estava vivendo de uma pensão “muito pequena” que era paga apenas a cada dois meses. Com menos de R$ 250 sobrando e há duas semanas do próximo pagamento,“tomei uma decisão ruim e furtei uma loja,pensando que seria um problema menor”,afirmou ela.

Além da pobreza,outro problema que aflige a população idosa japonesa é o abandono familiar,o que resulta na falta de apoio quando são reintegrados à sociedade. Parte do problema para os ex-detentos é a falta de apoio quando voltam à sociedade,disse Megumi,uma agente penitenciária em Tochigi,que a CNN identificou apenas pelo primeiro nome para fins de privacidade.

— Mesmo depois de serem libertados e voltarem à vida normal,eles não têm ninguém para cuidar deles — relatou Megumi,agente penitenciária em Tochigi.

— Há também pessoas que foram abandonadas por suas famílias depois de cometerem crimes repetidamente,elas não têm um lugar para onde voltar.

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Um problema para o Japão

As autoridades japonesas,relata a rede americana,reconheceram o problema crescente,com o Ministério do Bem-Estar Social dizendo em 2021 que os presos idosos que receberam apoio após deixarem a prisão tinham muito menos probabilidade de reincidir do que aqueles que não receberam. Desde então,a autoridade intensificou seus esforços de intervenção precoce e centros de apoio comunitário para melhor apoiar idosos vulneráveis.

O Ministério da Justiça também lançou programas para mulheres presas que fornecem orientação sobre vida independente,recuperação de dependência de substâncias e como lidar com relacionamentos familiares. Além disso,o governo está agora considerando propostas para tornar os benefícios de moradia acessíveis a mais idosos,com 10 municípios em todo o Japão já testando iniciativas para apoiar idosos sem parentes próximos.

No entanto,ressalta a rede americana,não está claro se isso será suficiente,em um país com uma das maiores expectativas do mundo e as menores taxas de natalidade.

A população idosa está crescendo tão rapidamente que o Japão precisará de 2,72 milhões de profissionais de saúde até 2040,de acordo com o governo.

Isso é evidente em Tochigi,onde os policiais “pedem ativamente que (os presos) com qualificações em enfermagem prestem assistência” a outros presos idosos,disse Megumi.

Enquanto isso,as prisões continuam a se encher de detentos idosos.

Akiyo terminou sua sentença em outubro. Um mês antes de sua libertação,ela admitiu que estava cheia de vergonha e com medo de encarar o filho. Ela planejava se desculpar e pedir perdão a ele,mas afirmou: “tenho medo de como ele pode me ver”.

— Estar sozinha é algo muito difícil,e me sinto envergonhada por ter chegado a essa situação — acrescentou à CNN.

Envelhecimento da população faz Japão encerrar festival milenar com homens seminus

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Envelhecimento da população faz Japão encerrar festival milenar Sominsai,com homens semi-nus — Foto: Philip Fong/AFP

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Os cantos apaixonados de “jasso,Jewela” (que significa “deixe o mal ir”) ecoaram por uma floresta de cedro na região de Iwate,no norte do Japão — Foto: Philip Fong/AFP

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A organização do evento tornou-se um fardo pesado para os idosos fiéis locais,que têm dificuldade em manter o rigor do ritual — Foto: Philip Fong/AFP

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O festival “Sominsai”,considerado um dos mais estranhos do Japão,é a última tradição a ser afetada pela crise demográfica do país — Foto: Philip Fong/AFP

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A sociedade japonesa envelheceu mais rapidamente do que a de muitos outros países,uma tendência que forçou o encerramento de escolas e empresas — Foto: Philip Fong/AFP

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Festival do Templo Kokuseki era realizado do sétimo dia do Ano Novo Lunar até a manhã seguinte,mas a pandemia de Covid já havia forçado a redução do evento — Foto: Philip Fong/AFP

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A última comemoração foi uma versão abreviada,que terminou por volta das 23h,mas atraiu a maior multidão de que há memória recente — Foto: Philip Fong/AFP

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Ao anoitecer,homens de tanga branca iam ao templo,banhavam-se em um riacho e marchavam ao redor do terreno do templo,cerrando os punhos contra o frio da brisa de inverno enquanto cantavam "jasso Jewela" — Foto: Philip Fong/AFP

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Quando o festival atingiu o seu auge,centenas de homens aglomeraram-se dentro do templo de madeira grita — Foto: Philip Fong/AFP

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Muitos participantes e visitantes manifestaram a sua tristeza e compreensão no final do festival,que tem versões similares em outros templos — Foto: Philip Fong/AFP

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Publicidade 'Sominsai' é considerado um dos eventos mais estranhos do país

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