O Brasil no pior dos mundos

2024-09-13     HaiPress

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva,durante cerimônia no Palácio do Planalto — Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

RESUMO

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GERADO EM: 13/09/2024 - 04:30

Brasil enfrenta desafios com Venezuela e Argentina

O Brasil enfrenta desafios complexos com Venezuela e Argentina,ex-parceiros agora em crises. Diplomatas destacam a falta de resultados nas mediações de Lula e provocação de Milei. O país busca evitar rupturas,mas a situação é crítica e mostra uma relação desgastada. A integração regional cede espaço à contenção de crises explosivas,com um sentimento de desequilíbrio nas relações.

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A crise política venezuelana pôs o Brasil no pior dos mundos. Essa avaliação tem sido feita por diplomatas brasileiros que acompanham de perto uma situação que fica mais delicada a cada dia que passa. Os esforços do governo Lula junto à Colômbia para tentar abrir um espaço de mediação entre a ditadura de Nicolás Maduro e a oposição não prosperaram,e nada parece indicar que isso vai mudar.

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As últimas declarações do presidente brasileiro evidenciaram sua falta de paciência com Maduro,e a resposta do Palácio de Miraflores foi cercar a embaixada argentina em Caracas,ainda sob custódia do Brasil,com carros e agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência. Para esses mesmos diplomatas,“foi o troco de Maduro a Lula por suas críticas ao processo eleitoral venezuelano”.

Na complexa equação também está a Argentina de Javier Milei. Enquanto o Brasil cuida da embaixada do país,a pedido de Buenos Aires,o chefe de Estado argentino acusa Lula de “tirano” em eventos da extrema-direita internacional em sua capital. Nestes dias,um dos diplomatas que consultei estava revoltado: “Todos nos usam politicamente,e nós,o que ganhamos com isso? Por que os argentinos não resolvem o problema da embaixada deles em Caracas?”.

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O governo brasileiro não conseguiu mediar nada na Venezuela e,ainda por cima,enfrenta provocações e ataques diretos de Milei,a quem socorreu em Caracas. Não são poucos os diplomatas brasileiros que começaram a questionar uma atuação que,até agora,não rendeu frutos ao Brasil de Lula. A resposta dos que defendem os posicionamentos e decisões de Brasília é que o governo Lula busca preservar a relação com a Venezuela,por sua importância regional e estratégica,e o mesmo faz com a Argentina.

De certa forma,em nome de sua tradição diplomática,o Brasil está de mãos atadas. Tenta evitar uma escalada de tensão com seus dois vizinhos mais difíceis porque,na avaliação dos assessores de Lula,os custos de uma crise mais grave seriam muito altos. Perdi a conta das vezes que ouvi diplomatas afirmarem que “sair da Venezuela nos governos Temer e Bolsonaro foi um erro imperdoável”. De fato,o custo foi alto e a realidade mostra que é muito difícil recuperar o tempo perdido. O chavismo não confia mais no Brasil como o fez no passado.

O que fazer agora? A única certeza é que deve ser feito tudo o que puder ser feito para evitar uma nova ruptura. Já não se pensa num relançamento com fôlego da relação bilateral,e muito menos em aproximar a Venezuela de seus vizinhos sul-americanos. O sonho morreu. O desafio é permanecer em Caracas,sem grandes sobressaltos. Os últimos acontecimentos mostraram que até mesmo esse desafio é grande nas atuais circunstâncias.

No caso da Argentina,as tensões com Milei,admitem fontes diplomáticas,serão permanentes nos próximos anos. O governo argentino é capaz de pedir ajuda e atacar,ao mesmo tempo. O Brasil pediu explicações pelas últimas declarações de Milei,mas,no mesmo dia,viu-se obrigado a ajudar a Argentina a proteger os seis asilados venezuelanos que estão em sua embaixada em Caracas. A crise obrigou diplomatas brasileiros a trabalharem todo o fim de semana passado,do baixo escalão ao ministro das Relações Exteriores,Mauro Vieira.

O projeto de retomar os caminhos da integração regional foi substituído pela urgência de conter crises explosivas com os países que,em outras épocas,foram grandes sócios do Brasil. E,em ambos os casos,a sensação entre fontes diplomáticas é de que “o Brasil entrega muito mais do que recebe. A conta não fecha”.

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