Entenda como funciona o esquema de fraude nas máquinas de bichos de pelúcia adulteradas por organizações criminosas

2024-08-29     HaiPress

Máquinas de bichos de pelúcia em shoppings do Rio — Foto: Guito Moreto/Agência O Globo

RESUMO

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GERADO EM: 29/08/2024 - 04:31

Fraude em máquinas de bichos de pelúcia desvendada

Organizações criminosas fraudam máquinas de bichos de pelúcia para beneficiar jogadores. Perícia revela programação eletrônica que limita sucesso a um número específico de tentativas. Operação Mãos Leves desvenda esquema,suspeitando envolvimento com contravenção do jogo do bicho e milícias. Investigações continuam.

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Suspeitas de estarem relacionadas à prática de jogos de azar,maquinetas de pegar bichos de pelúcia,também conhecidas como máquinas de ursinhos,das empresas Black Entertainment e London Adventure que,segundo a polícia,controlam o mercado deste tipo de entretenimento,passaram por uma perícia no último mês de junho,na primeira fase da Operação Mãos Leves. O exame revelou que o funcionamento do sistema eletrônico do equipamento é programado para dar pressão o suficiente para uma garra capturar o brinquedo de pelúcia apenas após a realização de um número pré-estabelecido de tentativas sem sucesso.

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Ou seja,o sistema dispõe de um contador de jogadas. Enquanto o número programado não for atingido,a corrente elétrica enviada gera uma potência na garra insuficiente para a captura do brinquedo. Assim,o jogador dependeria muito mais da sorte do que da habilidade para ganhar o jogo. Significa dizer,que o usuário do jogo só teria êxito ao jogar logo após a meta estabelecida pela programação ter sido alcançada. Após a premiação,a máquina voltaria ao mesmo estágio anterior.

Numa das máquinas que passou por perícia,no dia 3 de junho,no Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) foi constatado que o equipamento estava programado para que,em 97% das jogadas,a potência fosse insuficiente na grua responsável por içar o bicho de pelúcia. Já em,outra perícia,feita em uma máquina diferente da primeira,no dia 6 de junho,constatou o mesmo problema,porém com outros números. Segundo o exame,em 80% das tentativas,a máquina estava programada para não dar chance ao usuário de conseguir capturar o bicho de pelúcia. Assim,segundo a perícia,a programação estipulava que o jogador só poderia contar com à potência total da grua em 20% das ocasiões.   

As duas máquinas examinadas faziam parte de um lote de equipamentos que foi apreendido,em maio,por policiais da Delegacia de Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM) na primeira fase da Operação Mãos Leves. Nesta quarta-feira,a especializada deflagrou a segunda fase da operação e apreendeu,entre outras coisas,dois cofres com valores em três moedas diferentes (dólar,real e iene),além de três pistolas,munição,celulares,tablets e notebooks. O material estava em um endereço da Barra da Tijuca,na Zona Oeste do Rio,ligado a uma das seis pessoas investigadas na Operação Mãos Leves 2,deflagrada pela DRCPIM para cumprir 19 mandados de busca e apreensão,no Rio de Janeiro e em Santa Catarina.

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O advogado Caique Strufaldi,que defende os interesses da London Adventure,informou que vai tentar reaver todos os bens apreendidos,inclusive os valores em dinheiro. Em nota,ele afirma a empresa que é legalizada e adquire os bichos de pelúcia no mercado interno,em transações legais e com nota fiscal:

"As máquinas da London são lúdicas,a empresa é toda legalizada e a mercadoria,ursinhos e películas,é toda adquirida no mercado interno,legalizado,com nota fiscal. A atividade é desenvolvida no Brasil e no mundo,trata-se de atividade entretenimento. No país que mais se aposta nas Bets,supor que as máquinas de garras para ursinho de pelúcia são jogo de azar desafia a lógica das coisas e coloca gente de bem envolto em escândalos policialescos com destroços de vida humana".

O Globo não conseguiu contato com a defesa da Black Entereinment até a publicação desta matéria.

Quem está envolvido?

Com o laudo,a Polícia Civil constatou que as máquinas são parte de um processo fraudulento para lesar os consumidores. Os investigadores apuraram também que um dos alvos da operação já foi investigado por ligação com máquinas caça-níqueis. Isso levantou a suspeita da participação do jogo do bicho na atividade.

— Isso fez acender uma luz que nos fez desconfiar de que organizações criminosas como contravenção de jogo do bicho ou até milícias possam estar por traz disso — afirma o delegado Pedro Brasil titular da DRCPIM.

Os agentes da DRCPIM,com o apoio da Polícia Civil de Santa Catarina,foram a endereços no Rio,na Baixada Fluminense e em SC na última quarta-feira. Ninguém foi preso. Os alvos são investigados por crimes contra a economia popular,contra o consumidor,contra a propriedade imaterial,associação criminosa e contravenção de jogo de azar. Apenas um,segundo delegado,já foi identificado. O suspeito teria sido investigado pela prática de jogo de azar vinculado a máquinas caça-níqueis.

— Ainda não é o momento de divulgarmos quem é,mas seguimos com a linha de investigação de que o esquema das máquinas de pelúcia pode,sim,ter relação com contraventores do jogo do bicho e com a milícia. É nessa linha,que já tinha sido levantada em maio,que continuamos — relata o delegado.

As investigações continuarão para apurar a possível prática de lavagem de dinheiro e outros crimes financeiros que possam estar acontecendo.

Primeira fase da Operação Mãos Leves

Na primeira fase,a especializada apreendeu 80 equipamentos do tipo num galpão no Jacarezinho,na Zona Norte da cidade,e em shoppings da capital e de São João de Meriti,na Baixada Fluminense e cerca de 10 mil pelúcias,entre elas falsificadas. Diferente da segunda fase,que apesar de também ter tido apreensões,visou investigar a parte financeira do esquema.

Em um galpão no Jacarezinho,onde era feita a montagem de máquinas,foram feitas apreensões. Um técnico em eletrônica e funcionários que trabalhavam na montagem foram levados à DRCPIM para prestar esclarecimentos,mas se mantiveram em silêncio.

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